Em todos os locais, a todo o momento, estamos rodeados de sons: na natureza, na rua, com as pessoas… Enfim, querendo ou não, gostando ou não, os temos sempre ao nosso redor.
Sem música não temos dança. Sem som, não há teatro: sem teatro não há literatura; sem literatura, não há livros, desenhos; sem livros, não há cultura; sem cultura não há imaginação, criatividade. O que temos? Nada!
A música é uma arte que está ligada a todas as outras. É um meio de expressão de ideias e sentimentos, mas também é uma forma de linguagem. A música vai além daquilo que ouvimos. Quando inserida na rotina das crianças e dos adolescentes, as canções contribuem para o desenvolvimento neurológico, afetivo e motor da criança.
As atividades musicais realizadas na escola não visam à formação de músicos; e sim, através da vivência e compreensão da linguagem musical, propiciar a abertura de canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formação integral do ser. A esse respeito Katsch e Merle-Fishman apud Bréscia (2003, p.60) afirmam que “[…] a música pode melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na aprendizagem de matemática, leitura e outras habilidades linguísticas nas crianças”.
A Importância da Musicalização Infantil e Ensino Fundamental
Jean Piaget, psicólogo e cientista suíço, descobriu que a capacidade cognitiva (aquisição de conhecimento) é uma evolução em estágios, dos comportamentos mais primitivos até o nível adulto do raciocínio lógico. O raciocínio é uma característica da inteligência. Portanto, inteligência é a capacidade de raciocinar, organizar e propor soluções para as questões que vão sendo apresentadas com graus de dificuldade cada vez maiores. O bebê, quando nasce, já dispõe de estruturas mentais (formas de pensar), que apesar de rudimentares só precisam ser estimuladas para se desenvolverem.
As fases do desenvolvimento infantil segundo Piaget
Período Sensório-Motor (0 a 2 anos)
– Aprendizagem da coordenação motora elementar;
– Aquisição da linguagem até a construção de frases simples;
– Desenvolvimento da percepção;
– Noção de permanência do objeto;
– Preferências afetivas;
– Início da compreensão de regras.
Período Pré-Operatório (2 a 7 anos)
– Domínio da linguagem;
– antropocentrismo / egocentrismo;
– Brincadeiras individualizadas, limitação em se colocar no lugar dos outros;
– Possibilidade da moral da obediência, isto é, que o certo e o errado são aquilo que dizem os adultos;
– Coordenação motora fina.
Período das Operações Concretas (7 a 11 anos)
– Início da capacidade de utilizar a lógica;
– Número, conservação de massa e noção de volume;
– Operações matemáticas, gramática, capacidade de compreender e se lembrar de fatos históricos e geográficos;
– Autoanálise: possibilidade de compreensão dos próprios erros;
– Planejamento das ações;
– Compreensão do ponto de vista e necessidades dos outros;
– Coordenação de atividades, jogos em equipe, formação de turmas de amigos;
– Julgamento moral próprio que considera as intenções e não só o resultado (p.ex. perdoar se foi “sem querer”). Menos peso à opinião dos adultos.
Período das Operações Formais (11-12 anos em adiante)
– Abstração matemática (x, raiz quadrada, infinito);
– Formação de conceitos abstratos (liberdade, justiça);
– Criatividade para trabalhar com hipóteses impossíveis ou irreais (se não existe gravidade, como funcionaria o elevador? Se as pessoas não fossem tão egoístas, não precisaríamos de polícia);
– Possibilidade de dedicação para transformar o mundo;
– Reflexão existencial (Quem sou eu? O que eu quero da minha vida?);
– Crítica dos valores morais e sociais;
– Moral própria baseada na moral do grupo de amigos;
– Experiência de coisas novas, estimuladas pelo grupo de amigos.
Para Piaget, a moral consiste num sistema de regras e essência; acredita que o desenvolvimento moral é constituído na medida em que a criança vai tomando consciência de si e dos objetos que a circundam.
“(…) As oportunidades de aprendizagem de arte, dentro e fora da escola, mobilizam a expressão e a comunicação pessoal e ampliam a formação do estudante como cidadão, principalmente por intensificar as relações dos indivíduos tanto com seu mundo interior como com o exterior.” (PCN, Arte, Introdução, 1998, p.19).
“(…) é papel da escola estabelecer os vínculos entre os conhecimentos escolares sobre a arte e os modos de produção e aplicação desses conhecimentos na sociedade. Por isso um ensino e aprendizagem de arte que se processe criativamente poderá contribuir para que conhecer seja, também, maravilhar-se, diverti-se, brincar com o desconhecido, arriscar hipóteses ousadas, trabalhar muito, esforçar-se e alegrar-se com descobertas. Porque o aluno desfruta na sua própria vida as aprendizagens que realiza. (PCN, Arte, I 1998, p.31).
Entre as páginas 81 a 87 do PCN, está a parte do conteúdo de música, que todo professor deveria ler, para estar por dentro!
Jogos, Brincadeiras, Canções de Roda: O Papel da Música na Escola
De que uma criança gosta mais que brincar? Com o “brincar”, o professor tem em mãos um vasto material de oportunidades. Quando somos crianças, motivados por um brinquedo, damos os primeiros passos e superamos desafios para alcançar o que desejamos.
Através da música usamos os jogos, brincadeiras e canções para o desenvolvimento; além de podermos trabalhar o físico, o afetivo, o mental e o social, sempre respeitando as fases de desenvolvimento de cada criança, usando a criatividade, a capacidade de resolver problemas e de superar desafios. “(…) Brougère identifica que o jogo contribui de maneira indireta na medida em que permite ao aluno relaxar e divertir, podendo assim ser mais eficiente e atencioso nos exercícios que lhe são determinados (…)” (JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS pg. 63, de Roselene Crepaldi)
O processo criativo está relacionado com o exercício da imaginação. O papel da música é explorar a autoexpressão, a descoberta, o poder da imaginação e a criatividade, o desenvolvimento psicomotor, aspectos cognitivos e afetivos, além de noções espaciais para que potencializem suas habilidades e capacidades.
Na educação, brincar é parte de um desenvolvimento sadio, trazendo prazer e alegria.
As atividades musicais quando direcionadas às crianças com dificuldades de aprendizagem ou portadoras de necessidades especiais, contribuem com a autoestima, comunicação, formas de expressão e melhora na coordenação motora. Estudos comprovam que a música age mentalmente nas crianças e, também, em adultos, contribuindo para o equilíbrio das pessoas.
A Inteligência Musical de Howard Gardner
Em seus estudos, Gardner descobriu que somos dotados de inteligências. Cada uma é única, formando as nossas habilidades. Essas inteligências, todos nós as temos, porém, em graus diferentes. São elas:
Linguística: – sensibilidade especial com a linguagem;
Lógico–Matemática: – capacidade de resolver problemas matemáticos, resolver problemas de lógica e álgebra;
Espacial: – relações entre objetos, organizar espaços e redefinir mentalmente;
Corporal–Sinestésica: – representar ideias em movimentos, características de grandes dançarinos, mímicos e praticantes de esportes;
Social ou Interpessoal: – entender os motivos, sentimentos e os comportamentos de outras pessoas;
Intrapessoal ou Pessoal: – entendimento de nós mesmos, de nossos sentimentos e emoções, e como podemos modificar nossa conduta;
Musical: – permite detectar e produzir estruturas musicais.
Todo ser humano possui suas habilidades e capacidades, apenas necessita de oportunidades para explorá-las e desenvolvê-las. A escola desempenha um papel predominante no potencial de cada criança, e proporcionar o contato com atividades para o seu desenvolvimento. Portanto, cabe a nós, professores, mostrar esse mundo, um mundo mágico, apontar os caminhos, fazer a diferença na vida de cada aluno.
Elaine Prado
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